A Reportagem, "DISTÂNCIA ENTRE ABCD E EUROPA VIRA UM PASSO DE DANÇA" de Carol Scorce publicada no site ABDC Maior em 02/01/2014, fala sobre a história de Marcio Teixeira que fez parte do Núcleo Menino Jesus quando criança e adolescente.

Marcio Teixeira pegou gosto pela dança ainda criança, numa creche de São Caetano, e hoje é bailarino profissional na Inglaterra.
Três mil quilômetros separaram São Luís, no Maranhão, de nossa São Caetano. Entre São Caetano e a Europa, um oceano inteiro. Do bailarino ao topo, alguns passos. No caminho do jovem Márcio Teixeira e sua paixão, a dança, absolutamente nada.
A caminhada até aqui começou com dias e dias dentro de um ônibus, dias que Márcio, de tão criança, mal consegue se lembrar e que não faz questão nenhuma de esquecer. “Meu pai e minha madrasta buscavam oportunidades melhores que no Nordeste. Éramos em sete, e fomos morar em uma casa de apenas um cômodo. Era um tempo difícil. Na verdade, ainda é”.
O pai, contador em um firma de caminhões, e a madrasta, ajudante geral em uma gráfica, sempre trabalharam muito, e cedo Márcio e os irmãos foram passar boa parte do dia no Núcleo Menino Jesus. A creche oferecia oficinas de artes e cidadania, entre elas a de dança. “Fazia por fazer. Porque fazia parte da minha rotina na creche. Quando fiz 12 anos fui para um núcleo para adolescentes, e continuei fazendo dança. Com 14 uma professora de ballet me levou para a academia dela. Foi onde peguei gosto”.
O menino fazia os exercícios de força, alongamento, equilíbrio e precisão parecerem simples. Foi quando ele descobriu o que é talento, e que talento não se pode negar. Passou a participar de festivais e ganhar esses festivais. “Passei a fazer mais aulas e entender como é de fato o mundo do ballet, cheio de competições e com um rigor técnico muito alto. Não tinha na minha nenhuma referência que chegasse perto daquele ambiente”.
Aos poucos, o garoto foi perdendo o medo do palco, e passou a ser cada vez mais convidado para estudar a dança. Nessa época ainda não via a dança como um profissão. Mais festivais, mais espetáculos, prêmios e prêmios. Arrumou o emprego de garçom, e com o salário bancava os figurinos das peças. “Meus amigos faziam bicos para pagar os passeios da escola, e eu pagava os figurinos. Perdi algumas coisas, mas hoje estou colhendo os frutos”.
Expressão da beleza - A essa altura Márcio entendeu que já era bailarino. Os pais quase viam as peças, o trabalho era muito e não dava tempo. Mas a força para que o menino seguisse seu rumo era total. Mais festivais vieram e Márcio foi estudar na Pacific DanceArts, em Vancouver, no Canadá, onde passou nove meses. Hoje ele está no segundo ano da English National Ballet School, em Londres, na Inglaterra.
< Revista O Futuro: Entrevista com Marcio Teixeira >
“A dança pra mim é como a vida: é a expressão corporal de um pensamento, um sentimento ou tudo aquilo que expressa beleza para quem dança e se sente bem em fazer isso. Adoro estar nos palcos e mostrar e sentir tudo isso. E estar onde estou, numa das escolas mais prestigiadas, me faz mais ainda feliz”.
Márcio só tem 19 anos, e sonhos de hoje são pontes consistentes para o futuro. Nas férias vem pra o Brasil ficar com a família, e mesmo assim mal consegue ver o pai e madrasta, que continuam trabalhando muito para manter a casa e mesmo ajudar o filho no exterior. O bailarino sonha ser contratado por grandes companhias de dança da Europa, e, então, permitir que os pais trabalhem menos e passem mais tempo com ele.